OURO PRETO
Historia & Cultura
Deve-se ao espírito intrépido e aventureiro dos bandeirantes paulistas o início do povoamento de Minas Gerais em fins do século XVII. Os sertões das Gerais, que viriam integrar o território do país em formação, atraíam então inúmeras expedições, em busca de ouro e pedras preciosas, ou de índios para o trabalho escravo em São Paulo.
Com o propósito de aprisionar indígenas, partiu de Taubaté, por volta de 1694, uma expedição rumo ao sertão dos Cataguases. Fazia parte do grupo o mulato Duarte Lopes, que já havia trabalhado nas minas de Paranaguá e Curitiba. A expedição acampou no local denominado então Serro do Tripuí. No topo de uma daquelas montanhas elevava-se uma pedra enorme e, logo abaixo, outra menor. Era o Itacolomi, que iria depois servir de ponto de referência para o reencontro do sítio onde Duarte Lopes descobriu, por obra do acaso, o ouro da região.
Duarte Lopes desceu do alto do Tripuí para beber água no córrego hoje denominado Antônio Dias e, conforme conta Antônio, "metendo a gamela na ribanceira para tirar a água e roçando-a pela margem do rio, viu que nela depois ficaram uns granitos da cor do aço, sem saber o que eram, e nem os companheiros". Levados esses granitos negros para Taubaté, foram vendidos a um certo Miguel de Sousa, que os mandou depois ao Governador do Rio de Janeiro, Arthur de Sá e Meneses. Examinados, verificou-se tratar-se de "ouro finíssimo", Ouro Preto.
No entanto, agora restava apenas um marco para o ouro do Tripuí: o pico do Itacolomi. Diversas bandeiras o procuraram avidamente sem conseguir, no entanto, localizá-lo. Coube a Antônio Dias de Oliveira a sorte de defrontá-lo no dia 24 de junho de 1698. Sua expedição havia chegado ali na véspera, ao anoitecer, e ao instalar o acampamento, seus componentes não suspeitavam que estavam diante do pico descrito por Duarte Lopes, oculto aquela hora pelas nuvens que habitualmente o escondem. Ao amanhecer, o Itacolomi surgiu no outro lado do vale, nitidamente desenhado contra o céu limpo. "Foi nessa madrugada", diz Diogo de Vasconcellos, "que realmente se fixou a era cristã das Minas Gerais".
Enviada a notícia para Taubaté, chegaram no ano seguinte ao Serro do Tripuí novos bandeirantes. Acompanhava-os o padre João de Faria Fialho, que rezou, numa capela de palha dedicada a São João, a primeira missa do nascente povoado, para onde começou, daí por diante, a afluir grande número de aventureiros.
De 1700 a 1701 a fome grassou entre aqueles homens avidamente entregues à extração do ouro, única atividade em que se ocupavam. Muitos deles, então, deixaram as minas do Tripuí e partiram em busca de novas descobertas. Antônio Dias de Oliveira e o padre João de Faria também abandonaram suas datas e não mais regressaram.
Em 1704, Pascoal da Silva Guimarães, mascate português procedente do Rio das Velhas, onde havia enriquecido, iniciou, na serra por onde passa hoje o caminho das Lajes, a mineração pelo processo de lavagem do barranco. O ouro, da melhor qualidade, surgiu ali em abundância, como terra. Novas levas de aventureiros ávidos invadiram o local, povoando-o rapidamente.
De 1707 a 1709, as minas viveram dias de grande agitação. Os paulistas revoltaram-se contra a concessão de terras e minas aos emboabas, como denominavam os portugueses, e aos brasileiros do Norte, alcunhados de baianos. Esses dois grupos deram origem à Guerra dos Emboabas. Após inúmeras lutas, que tumultuaram os povoados das Minas, coube, finalmente, a vitória aos portugueses.
Treze anos depois da chegada da bandeira de Antônio Dias de Oliveira ao Sêrro do Tripuí, era já considerável o progresso do arraial das Minas, surgindo assim a necessidade de sua elevação à categoria de vila. No dia 8 de julho de 1711, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, Governador da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, criava a Vila Rica de Albuquerque. Pouco depois, esse nome foi simplificado para Vila Rica, conforme ordem do Govêrno de D. João V, que não concordou com a denominação, dada sem prévia licença régia.
Por volta de 1720 entrava Vila Rica em fase de grande prosperidade quando foi abalada por violentos distúrbios. A 11 de fevereiro de 1719, D. João V criou, no distrito das Minas, as casas de fundição onde todo o ouro extraído tinha que ser fundido, para sofrer então uma dedução correspondente ao quinto para a Coroa, às despesas de fundição e a outras taxas. A Lei de D. João V proibia, também, a circulação do ouro em pó. Este novo sistema de cobrança dos quintos provocou entre os habitantes da vila uma revolta, que foi abafada pelo Conde de Assumar então Governador da Capitania. Felipe dos Santos, chefe dos revoltosos, foi preso, julgado sumariamente, enforcado e esquartejado. O próspero arraial do Ouro Podre, pertencente a Pascoal da Silva, foi inteiramente incendiado.
Mas a força do ouro, que aflorava fácil e abundante, continuou a impulsionar o progresso rápido de Vila Rica.
Em 1789, causou descontentamento geral no povo a chegada do Visconde de Barbacena, que ali fora com o propósito de proceder à cobrança dos quintos, cujo déficit era já superior a 500 arrobas de ouro. O lançamento da derrama deu origem à revolta que passou à história com o nome de Inconfidência Mineira. O grupo de conspiradores, composto de homens cultos e influentes, e que tinha no Alferes Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes - seu mais ardoroso adepto, foi traído e denunciado pelo Coronel Joaquim Silvério dos Reis. Presos os chefes do movimento, Tiradentes foi enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro e sua cabeça exposta num poste em Ouro Preto, na praça que tem atualmente seu nome. Outros elementos do grupo, entre os quais se encontrava o poeta Tomás Antônio Gonzaga, foram degredados para a África, Cláudio Manuel da Costa suicidou-se na prisão da Casa dos Contos e os sacerdotes cumpriram sentença em conventos de Lisboa.
No início do século XIX, a extração do ouro, que há muito vinha decrescendo, entrou em decadência. Vila Rica começou, então, a voltar-se para outras fontes de riqueza da região. Em 1811, Eschwege inicia, com amparo oficial, a construção da fábrica de ferro do Prata, no distrito de Congonhas do Campo, então Município de Ouro Preto, a qual entrou em funcionamento em 1812. Nessa mesma época existia em Ouro Preto uma manufatura de faiança, que mereceu de alguns observadores estrangeiros (Saint-Hilaire e Mawe) os melhores elogios. Esta indústria, no entanto, desapareceu. Mas a siderurgia e outros ramos industriais se desenvolveram e mantiveram sempre o equilíbrio da economia do Município.
Declarada a independência do Brasil, Vila Rica foi elevada, por decreto de 24 de fevereiro de 1823, a cidade Capital da Província de Minas Gerais. A carta imperial de 20 de março do mesmo ano confirmou aquele decreto, mudando-lhe o nome para Ouro Preto e conferindo-lhe o título de Imperial Cidade.
Ouro Preto permaneceu como sede do Governo de Minas até 12 de dezembro de 1897, quando a Capital foi transferida para Belo Horizonte.
Fonte: IBGE
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